Dois, de Oscar Nakasato

10:27:00


"Dois é um livro sobre as reminiscências de irmãos. [...] É o recriar lento (e incerto) do presente através das lembranças e dores de pessoas que têm o mesmo sangue."

Zé Paulo é o primogênito, por isso sempre teve as maiores responsabilidades. Quando os pais saíam, ele tinha a obrigação de cuidar de Maria Luísa, Zé Carlos e Zé Eduardo, seus irmãos. Este último é o caçula, o qual, ao contrário do mais velho, tinha todos os seus desleixos perdoados e era tratado como "coitadinho" pela mãe. Com o passar dos anos, as diferenças entre os dois irmãos só aumentaram, até que a história deles se separasse para sempre.

Em Dois, Zé Paulo e Zé Eduardo são os narradores de suas memórias. Em capítulos mesclados, cada um, já idoso, conta trechos de sua infância e juventude que fornecem um panorama geral da família: características marcantes dos integrantes, do convívio familiar e, principalmente, do temperamento de irmãos tão opostos. Assim, à medida que a trama avança, é possível identificar o narrador em questão mesmo que seu nome não seja mencionado.
Zé Paulo é bastante conservador, resultado da sua criação como o grande responsável pelos irmãos, apesar de ainda adolescente. Esse perfil muitas vezes irrita o leitor, pois revela também uma série de preconceitos propagados pelo personagem. Em contrapartida, Zé Eduardo é instável, carrega o espírito jovem de busca por transformação e, nesse cenário, por justiça, visto que parte da sua juventude ocorre durante o regime militar no Brasil.
Parte das memórias dos irmãos trata justamente desse período político brasileiro. De um lado, um indivíduo com sede de luta, que sai da sua cidade natal no Paraná e parte para São Paulo com o movimento estudantil, ansiando fazer parte da guerrilha. Do outro, um rapaz já com família, conformado com a política do país e indignado com o comportamento rebelde do irmão. Nesse contexto, o leitor consegue ter uma noção da situação enfrentada por aqueles que combatiam o governo e da angústia partilhada por suas famílias.
Em menos de 200 páginas, Oscar Nakasato apresenta um drama familiar a partir do ponto de vista de dois irmãos completamente diferentes. Esse recurso é muito interessante, na medida em que mostra perspectivas distintas acerca de um mesmo acontecimento. Apesar disso, a obra não trata somente da relação entre Zé Paulo e Zé Eduardo, mas também da vida pessoal de cada um deles, introduzindo relações dentro de seus novos núcleos familiares.
Inicialmente estava gostando da proposta do autor, porém sem me envolver muito. Por volta da metade do livro as coisas começaram a mudar. Os acontecimentos narrados pelos personagens começam a provocar questionamentos no leitor e, aos poucos, segredos e sentimentos dos integrantes dessa família são revelados, abordando inclusive temáticas inesperadas. Portanto, Dois consistiu numa grata surpresa. Um romance sensível, cujo formato de narrativa e a construção de personagens ganham destaque.
 "É alguma enfermidade a inconstância?" (Pág. 30)
Minha Estante #103
Título: Dois
Autor (a): Oscar Nakasato
Páginas: 184
Editora: Tordesilhas
Nota: 4/5
Onde comprar: Amazon 
Livro cedido em parceria com a editora

Já leram Dois ou Nihonjin, obra de Oscar Nakasato vencedora do Jabuti? O que acharam? Me contem nos comentários!
Beijos e até o próximo post!

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