Frida, de Hayden Herrera

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Frida, de Hayden Herrera, é a biografia de Frida Kahlo. Assim como todo livro do gênero, essa obra aborda a vida da artista desde a sua infância até a sua morte, portanto, meu objetivo com esse texto não é falar sobre toda a existência de Frida, mas sim sobre alguns aspectos dela que me chamaram a atenção ou me impactaram de alguma forma e por isso decidi compartilhar com vocês. 

Os quadros dessa famosa pintora são conhecidos principalmente por seu caráter pessoal e por retratarem, em sua maioria, imagens fortes. Desde os primeiros anos da sua vida, Frida apresentou infortúnios na sua saúde. Quando criança, a garota teve poliomielite, também chamada de paralisia infantil, o que ocasionou um problema na sua perna. Na adolescência, a jovem sofreu um acidente de ônibus que afetou a sua região pélvica e resultou em diversas cirurgias. Durante a fase adulta, ocorreram novas complicações, quase todas relacionadas a sua coluna. Portanto, a dor física  sempre esteve presente na vida de Kahlo e foi responsável por parte do sofrimento representado em suas telas, sobretudo aquelas que foram pintadas durante o longo período em que ela permaneceu no hospital. pouco tempo antes de seu falecimento.

"Para Frida, pintar era, afinal, uma forma de cirurgia psicológica; ela cortava e esquadrinhava seu próprio espírito."

Ao longo da vida, Frida se casou duas vezes com o mesmo homem: Diego Rivera. Após dez anos juntos, Diego pediu o divórcio, algo que inicialmente não foi bem aceito pela mulher. Sempre dedicada a propiciar a felicidade de Rivera, Frida acatou a separação e deu início a uma fase bastante importante da sua carreira, talvez o seu momento mais produtivo, já que ela queria se tornar independente financeiramente do ex-marido e para isso precisava vender seus quadros. Cerca de um ano depois, os dois se casaram pela segunda vez, repetindo comportamentos da união anterior, porém convivendo de uma maneira talvez mais saudável, reforçando a necessidade que tinham um do outro. O relacionamento de Kahlo e Rivera era bastante complexo e peculiar. Ambos eram apaixonados um pelo outro e ao mesmo tempo que declaravam a necessidade de ficarem juntos, tanto ele quanto ela possuíam relações com outras pessoas e juravam amor a elas. Frida afirmava não se importar, mas sofria devido aos casos de Diego ao mesmo tempo em que mantinha seus próprios amantes. 

" [...] com seu olhar de soslaio, penetrante e devorador, sob as sobrancelhas espessas, o caso de amor mais apaixonado de Frida era consigo mesma."

Por conta da fratura na pélvis sofrida quando era adolescente, Frida teve vários abortos espontâneos e não conseguiu ter os filhos que tanto desejava. Diego não compartilhava dessa vontade, pois já tinha filhos frutos de outro casamento, porém se comprometeu a conceder o desejo da esposa. Infelizmente, o organismo da artista não conseguia manter as gestações, nem mesmo uma gravidez que chegou a durar cerca de cinco ou seis meses. Frida era apaixonada por crianças, adorava ficar com os sobrinhos e filhos de amigos, e a temática da fertilidade foi retratada com certa frequência em suas obras, sempre associada à natureza, ilustrando a sua ânsia de ser mãe e sua infelicidade por não ser capaz disso. Muitas vezes, Kahlo também atribuía conotações sexuais a plantas e flores. 

"Três preocupações impeliam Frida a criar sua arte, disse ela a um crítico em 1944: sua nítida lembrança do próprio sangue vertido no acidente sofrido na infância; seus pensamentos sobre o parto-nascimento, a morte e os 'fios condutores' da vida; e seu desejo de ser mãe."

Mundialmente conhecida nos dias atuais, Frida demorou um tanto para ser vista como pintora e não apenas como a esposa de um dos maiores muralistas do México. Depois de anos, principalmente após passar a ser associada ao surrealismo, a artista começou a fazer mais sucesso e ter suas obras vendidas com mais facilidade. Ainda assim, Frida encontrava dificuldades em agradar clientes, especialmente aqueles que faziam encomendas, por não conseguir ser impessoal, de modo que todos os seus quadros possuíam algo seu, o que nem sempre era aceito pelos compradores. Apesar disso, Kahlo continuou produzindo da mesma maneira. Vista como surrealista, Frida não buscava se enquadrar nesse movimento artístico, no entanto, a sua realidade e a sua forma de enxergar, de retratar a si mesma, acabavam correspondendo a aspectos que os outros viam como característicos dessa vanguarda. 

"Pensavam que eu era surrealista. Mas não sou. Eu nunca pintei sonhos. Eu pintei a minha própria realidade." - Frida


A reta final da biografia, que é dividida em seis partes, aborda o período em que Frida permaneceu no hospital e o pouco tempo que ela teve em casa após várias cirurgias, algumas não tão bem sucedidas. Esse trecho é bastante triste, já que é possível perceber algumas mudanças no comportamento da artista devido a sua consciência de que a morte estava próxima. Frida realizou algumas tentativas de suicídio, entretanto, a causa do seu óbito é considerada um problema no pulmão.

"'Espero a partida com alegria - e espero nunca mais voltar'. Essas palavras e seus derradeiros desenhos sugerem que Frida cometeu suicídio, embora oficialmente sua certidão de óbito registre embolia pulmonar como a causa da sua morte em 13 de julho de 1954, uma terça-feira."

Desde que eu conheci os quadros da Frida, em uma aula de filosofia anos atrás, sua obra me chamava a atenção. Lembro que a primeira obra dela que eu vi foi "A Coluna Partida" e de imediato ela me causou certo choque. Quando passei a fazer parte do movimento feminista, vi com cada vez mais frequência o nome dessa artista e o meu interesse por ela só aumentou. Após assistir pela segunda vez ao filme que conta a sua história, minha vontade de conhecer mais detalhes sobre a sua vida se tornou mais intensa e eu peguei para ler a sua biografia, escrita pela Hayden Herrera. A experiência foi maravilhosa. A Frida foi uma mulher incrível e ter acesso a mais informações acerca da sua existência foi demais. A minha vontade de ter sido amiga dela e a minha paixão pela sua obra só cresceu. 

Ao longo do livro, vários trabalhos da Frida são mencionados e alguns deles são descritos com mais detalhes pela autora, que tenta explicar os possíveis significados que eles carregam associando elementos das pinturas a momentos da vida da artista. Essas passagens são muito bacanas, já que é sempre interessante entender um pouco das motivações de um escritor, um pintor, enfim, e os aspectos pessoais que ele emprega nas suas produções. Por outro lado, independentemente de quantas explicações sejam fornecidas, nós nunca iremos saber o real propósito de um artista com a sua obra e talvez isso seja o mais fascinante: poder interpretar uma composição à nossa maneira. 

Em relação ao trabalho feito pela Hayden Herrera, tenho apenas duas ressalvas. Acredito que em alguns momentos ela focou excessivamente na vida do Diego Rivera, personalidade que eu não gosto tanto, confesso. Claro que as atitudes de Rivera são importantes para entender partes da vida da Frida, já que a sua presença nela foi bastante intensa, porém eu acho que algumas descrições não precisavam ter sido feitas, como situações vividas por ele em alguns trabalhos artísticos e também a sua trajetória no ramo político. Outro aspecto que me incomodou um tanto foi o vai e vem das datas. Algumas vezes, a autora cita um acontecimento de 1932, por exemplo, vai para 1940, e retorna para 1932 em um curto espaço de tempo, o que causa certa confusão. Apesar dessas observações, os aspectos mencionados não comprometem a leitura ou a qualidade da biografia. 

Sobre a edição de Frida, também tenho uma ressalva. Eu realizei a leitura em e-book, portanto não posso afirmar se isso se repete na versão física do livro. Acontece que as imagens mencionadas pela autora aparecem somente em um caderno de fotos adicionado após todo o texto, toda a biografia em si, de modo que nas partes em que são feitas descrições e explicações de quadros, eu precisei pesquisar os títulos das obras ou me conformar com a minha própria imaginação, já que eu não tinha acesso às figuras. Esse foi um aspecto que me incomodou bastante, mas eu preferi realizar as pesquisas do que abandonar a leitura.

Na minha opinião, o principal ponto positivo dessa biografia é a presença de cartas escritas por Frida, declarações dadas por ela a jornais ou coisas do tipo e passagens do seu diário. Conhecer melhor a personalidade dessa mulher através dos seus próprios relatos foi muito bacana e a minha admiração por ela se tornou ainda maior. A reprodução de depoimentos de outras pessoas sobre Frida, como Diego, Lupe Marín (ex-esposa de Rivera), Alejandro (primeiro namorado de Frida), entre muitos outros, também é muito interessante, já que consiste numa forma de entender como as atitudes da artista e os seus comportamentos eram vistos por aqueles que estavam ao seu redor.

Tentei pontuar as minhas obras favoritas da Frida, mas essa foi uma missão extremamente complicada. Ainda assim, separei algumas para compartilhar com vocês e são elas (da esquerda para à direita): Autorretrato de 1940, O que a água me deu, Autorretrato de 1947, Hospital Henry Ford e As duas Fridas.


Minha Estante #92
Título: Frida
Autor (a): Hayden Herrera
Páginas: 624
Editora: Globo
Nota: 5/5
Onde comprar: Amazon | Saraiva


Já leram Frida ou conferiram o filme que foi baseado nessa biografia? O que acharam ? Me contem nos comentários! 
Beijos e até o próximo post!

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